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terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Queimando Alexandria


 “Que Deus nos ajude a vencermos nossa tolice...”

Às vezes paro para refletir sobre algumas coisas e fico impressionado em ver como a Bíblia se aplica perfeitamente às mais diferentes situações e debates da atualidade.

No segundo semestre de 2019 [não me lembro o mês específico] li o famoso livro Fahrenheit 451, na mesma época ouvi pela primeira vez a música Alexandria, do cantor e compositor Tiago Iorc; imediatamente relacionei as duas temáticas.

A canção é uma clara reflexão sobre a alienação coletiva e desprezo pelo conhecimento, vejamos dois trechos, sendo o primeiro o refrão e o segundo uma das ultimas estrofes da excelente canção:

Gente demais, com tempo demais,
Falando demais, alto demais
Vamos atrás de um pouco de paz
[...] 
A gente queima todo dia
Mil bibliotecas de Alexandria
A gente teima antes temia
Já não sabe o que sabia

No refrão quando o cantor fala de pessoas falando demais, com tempo demais e alto demais, claramente vemos uma referência às falas impensadas e sem o menor fundamento, movidas por paixões ou ideias que a pessoa desconhece a origem; reflexão essa que aparece já nos primeiros versos: “Não tiro a razão de quem não tem razão [...] Não dou razão a quem perde a razão”.

Já na estrofe que destacamos se faz uma reflexão sobre a destruição da cultura, algo que sempre existiu; é interessante lembrar a história da destruição da biblioteca de Alexandria, essa não se deu em um único ato de barbárie, mas sim após várias invasões e investidas um grande incêndio a destruiu. O compositor com sua sagacidade percebe que estamos no mesmo caminho, pensamos saber quando não sabemos e desprezamos, “queimamos” a principal fonte de conhecimento que são os livros.

E quanto ao livro citado? Em Fahrenheit 451, brilhante distopia escrita por Ray Bradbury, publicada em 1953, o autor nos leva a um futuro não muito distante de sua época (que seria aproximadamente a terceira década do presente século XXI) em que os bombeiros passaram a provocar incêndios ao invés de combate-los; contudo tais incêndios possuem um único objetivo: destruir os livros.

Provavelmente o leitor que não teve a oportunidade de ler a obra citada deve estar imaginando que tal atrocidade ocorre pela imposição de um governo tirânico; lamento informar, mas não. A destruição dos livros se dá exatamente em resposta a uma tendência da sociedade em desprezar tudo que incomodava e trazia qualquer tipo de angustia ou sofrimento, as pessoas se distraiam com a telas enormes que exibiam interruptamente uma programação cujo objetivo era apenas o entretenimento, satisfazendo uma busca continua e desenfreada pela felicidade.

Parece-me que se o autor trocasse as telas enormes que cobriam as paredes das casas – casas essas que eram a prova de fogo, por isso se podia queimar os livros a vontade – pelos aparelhos eletrônicos de uso pessoal (smartphones, PC’s e tablets) ele teria acertado em cheio.

E o que a Bíblia tem com isso? Ora, no livro de Provérbios, o rei Salomão atrela em vários de seus aforismas a sabedoria ao conhecimento e coloca como tolo aquele que despreza o conhecimento, dizendo que o tolo não tem prazer no conhecimento, mas sim em expor o que pensa[1], mesmo sem embasamento algum.

Infelizmente a tolice na tradição judaico cristã não é uma opção, mas uma condição, como nos lembra o pastor Jonas Madureira em seu livro Inteligência Humilhada. Como todo pecado, nascemos inclinados a ele, portanto a pergunta não é o que nos faz tolos; mas como saímos dessa condição? Essa luta não é fácil! Como é mais fácil e prazeroso assistir a adaptação do romance para o cinema; ou assistir o documentário ao invés de ler sobre a ciência; ou simplesmente assistir/ouvir um discurso tolo, sem fundamento e repeti-lo igual a um papagaio, ao invés de estudar para termos embasamento para opinar.

Como disse Nelson Rodrigues: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos". Até parece que o livro se baseou nesse pensamento[2]. Que Deus nos ajude a vencermos nossa tolice para que possamos parar de queimar Alexandria.



[1] Provérbios 18.2 Não toma prazer o tolo no entendimento, senão em que se descubra o seu coração.(A.R.C.)
[2] Sei que seria anacronismo, pois Nelson Rodrigues escreve posteriormente a publicação de Fahrenheit 451

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Complexo de Judas


“um belo discurso disfarça qualquer má intenção, fazendo do soberbo traidor o mais generoso e humilde dos homens”





Cada dia fica mais notório a polarização que vem caracterizando a sociedade brasileira, ninguém está disposto a rever as próprias opiniões e para sustentá-las se valem de todo tipo de argumento; não importando se são válidos, verdadeiros ou mesmo se fazem sentido; vale até ignorar a língua portuguesa. Para isso o argumento absurdo é quase o mesmo: a garantia de direitos fundamentais. Que belo discurso para esconder as intenções escusas.
              
Em nome de garantir os direitos dos pobres de ter um julgamento justo, com ampla defesa, vale até soltar poderosos condenados em duas instâncias. Embora o texto Constitucional e legal (infraconstitucional) seja o mesmo de quando a prisão em segunda instância foi autorizada, pela mesma corte, pouco tempo antes, agora os interesses mudaram, embora seja necessário cumprir a literalidade constitucional em nome da garantia de direitos do mais pobre ao mais rico; apenas os poderosos gozaram dos efeitos dessa decisão. Afinal de contas o ladrão de galinha custa a conseguir uma apelação para a segunda instância, quem dirá para o STF.
            
O argumento lindo de garantia de direitos não para por ai, serve para autorizar o aborto, afinal de contas temos que garantir o direito fundamental da mulher sobre seu próprio corpo, mesmo que isso custe a vida de outro indivíduo – que não faz parte do seu corpo, nem a ele está ligado –, indivíduo esse indefeso, com direitos garantidos pela legislação, e que goza dos mesmos direitos fundamentais que sua genitora. Além disso, como lembra a jurista Janaina Paschoal ninguém tem direito sobre outra pessoa, uma das características dos direitos fundamentais é serem personalíssimos e inalienáveis, ou seja, não se transfere nem se “abre mão”, respectivamente.
            
Quando parece que isso é coisa só de progressista, aparece a galera dando um “cala boca” em um grupo de humor por ofender suas crenças religiosas, não que os progressistas não façam isso, pois fazem com muito mais competência. Mas se hoje exigimos do poder público que cale quem quer seja, amanhã pode ser nossas igrejas a serem fechadas e nossa fé proibida. E sempre com o mesmo discurso, a defesa dos direitos fundamentais.
            
Contraditoriamente eu defendo os meus direitos fundamentais acachapando os mesmos direitos fundamentais do meu concidadão... “Isso é humano, demasiadamente humano”. Postura tanto da esquerda progressista, quanto da direita reacionária. São faces da mesma moeda, nenhuma dessas ideologias sabe o que é democracia.
            
Para explicar esse fenômeno vale recorrer ao complexo de Judas. No livro “A Máfia dos Mendigos”, o pastor e economista Yago Martins nos leva a refletir sobre a postura de Judas (o autor usa a expressão “espírito de Judas”) ao ver uma mulher derramar um óleo caríssimo aos pés de Jesus, assim protesta: “Por que este perfume não foi vendido, e o dinheiro dado aos pobres?”[1] Perceba que se trata da mesma coisa, aparentemente a fala do discípulo traidor é irrefutável, quem condenaria um discurso que visa defender direitos dos mais pobres? Ninguém!
            
Contudo nos versículos seguintes a máscara de Judas é retirada, quando o texto nos informa que ele detinha a bolsa de dinheiro e não tinha o menor interesse na causa dos mais necessitados, estava unicamente interessado no lucro que poderia ter com aquilo.
            
De maneira idêntica a máscara cai nos nossos dias, quando percebemos que a decisão em revogar a permissão da prisão em segunda instância é apenas para beneficiar seus aliados ou protegidos, o discurso pró-aborto não tem nada a ver com direitos ou dignidade da mulher, está atrelado ao desejo pela libertinagem, descompromisso e irresponsabilidade, pois no fundo não querem assumir o ônus de serem responsáveis pelos próprios atos. Bem como o discurso pela liberdade religiosa não passa de ressentimento e se trata da mesma atitude dos progressistas quando querem calar a opinião dos que lhe são contrários.
            
Enfim, um belo discurso disfarça qualquer má intenção, fazendo do soberbo traidor o mais generoso e humilde dos homens.





[1]Evangelho segundo João 12.5

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

A experiência de Gideão


“Então o anjo do SENHOR veio, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas. Então o anjo do SENHOR lhe apareceu, e lhe disse: O SENHOR é contigo, varão valoroso.”
Juízes 6.11-12


Israel estava sob o domínio dos midianitas e durante sete anos eles atacaram a Israel durante o período da colheita e levaram todo o trigo, deixando o povo sem alimento (o que era uma tática muito comum na época, usada até em guerras mais recentes). Assim, diz a palavra, que o povo se empobreceu muito por causa da presença dos midianitas.

Para salvar o trigo dos midianitas, Gideão leva a colheita para o lagar, e enquanto estava ali apareceu um anjo que o chamou de varão valoroso; o valor de Gideão não estava em seus valores morais, éticos ou em sua força, mas sim em desejar salvar o trigo, salvar aquilo que o Senhor havia dado ao povo, provisão de Deus que naqueles dias estava sendo minada pela ação dos inimigos.

Esse mesmo quadro se repete hoje, as pessoas estão abrindo mão da palavra revelada, levando o trigo para eira (que é o lugar habitual – lógico – de se malhar o trigo), mas ali o trigo fica exposto e o inimigo o rouba facilmente. Vemos hoje a bíblia sendo interpretada segundo a razão do homem, para validar seus interesses materiais e carnais; os púlpitos das igrejas viraram palanques para palestras motivacionais e treinamentos empresariais; há pouco tempo vi um livro com o seguinte titulo: “As 25 leis bíblicas do sucesso”; a bíblia traz sim lições sobre vida profissional, sentimental e tantos outros assuntos que tangem a nossa vida terrena; entretanto todos esses ensinos são periféricos, têm como objetivo nos ensinar a viver mais perto do Senhor, obedecendo e usufruindo cada vez mais das bençãos do Senhor; Jesus não morreu na cruz para nos dar um bom emprego ou prosperidade material – isso é fruto do trabalho de cada um, trabalho esse que o Senhor honra; Ele morreu para nos dar vida eterna.  (É importante dizer que isso não precisa ser falado para a igreja, é apenas para o irmão que ler essa mensagem entender do que estamos falando).

Gideão desejou guardar o trigo, levando para o lagar, o lagar geralmente ficava perto da casa, precisamos levar a palavra de Deus para os nossos lares, para o mais intimo das nossas vidas, evangelho não vivido em templos ou em encontros e grandes eventos; e sim no nosso dia a dia, a cada momento precisamos viver a palavra de Deus. O lagar também era onde se pisava as uvas para fazer o vinho, era uma pedra com uma grande cavidade, ao contrário da eira, ali o trigo não tem contato com o chão, é palavra revelada, sem nenhum contato com a razão do homem. Para malhar o trigo no lagar é mais difícil, é mais demorado; para conhecermos a palavra do Senhor em seu sentido profético é preciso oração, jejum, uma busca continua (meios de graça), é preciso clamar pelo Sangue de Jesus, assim o trigo terá o sabor da uva, e não da terra; a palavra de Deus terá o sabor do sangue, do Espírito Santo e não do entendimento humano.

Gideão questiona o anjo do Senhor dizendo: “...se o Senhor é conosco, por que tudo isso nos sobreveio?...” As vezes a situação que vivemos nos leva a desacreditar no poder do Senhor; o quadro que vemos a nossa volta é muito grave nesse sentido, não há mais preocupação em pregar uma mensagem eterna, falar sobre o plano profético da salvação; Gideão questiona acerca do que o Senhor fez no passado quando tirou o povo de Egito, muitos hoje são levados a uma interpretação racional e relativa da palavra de Deus; entretanto a palavra é verdade absoluta, e era isso que o anjo desejava mostrar a Gideão e mostrou; e assim o Senhor quer fazer conosco. O anjo disse a Gideão (aqui já se revelando como o Senhor Jesus – um caso de “teofania” – do grego Teos = Deus e Phaniesta = revelar, teofania assim, significa Deus se revelando ou revelação de Deus ao homem – tradução livre):

“Então, o Senhor olhou para ele e disse: vai nessa tua força e livrarás a Israel da mão dos midianitas; por ventura não te enviei Eu?”
Juízes 6:14

Quando o Senhor diz vai nessa tua força (daqui em diante falaremos do anjo como o próprio Senhor Jesus, pois ele aceitou a adoração e a oferta de Gideão), está fazendo menção da força que o Espírito Santo já havia concedido quando Gideão atendeu a revelação e guardou o trigo, o Senhor nos alimenta com o seu pão (Jesus), o Senhor é a nossa força e Ele nos enviou a realizar a sua obra.

Gideão pediu um sinal de que o Senhor seria com ele (versículo 17 e 18); quando Gideão voltou com sua oferta o Senhor ordenou que ele a colocasse sobre a penha (penha é uma grande concentração de massa rochosa – definição do dicionário Aurélio), e ao tocar com o cajado subiu fogo da penha e consumiu a oferta (versículo 21); para sermos usados nas mãos do Senhor precisamos de um sinal, uma experiência com o fogo (Espírito Santo) para podermos caminhar sem nos desviar e sabendo discernir todas as coisas. Mas notem que Gideão precisou pedir o sinal, o Senhor fala com muitos, muitos desejam servir ao Senhor, todavia poucos se preocupam realmente em fazer as coisas segundo a vontade do Senhor, abrir mão de suas opiniões e renunciar sua vida para se dedicar ao Senhor. Gideão também disse ser o menor da casa de seu pai e a sua família a mais pobre (versículo 15), o Senhor não precisa de muito, apenas que estejamos dispostos a ofertar a nossa vida a Ele, o resto é o Senhor quem faz.

Naquela mesma noite o Senhor ordenou a Gideão que derrubasse o altar de Baal e cortasse o bosque de seu pai; após isso construísse um novo altar e sacrificasse nele ao Senhor (versículos 25 a 32). O altar pertencia a seu pai, e havia um bosque ao pé desse altar, essa é a situação das pessoas hoje, estão enraizadas diante de misticismos, crenças que não vêm do Senhor, e pensam que estão certas; pessoas boas, as chamadas na palavra de estrelas errantes, estão nessa situação por não conhecerem a verdade absoluta da palavra de Deus revelada pelo Espírito Santo. Gideão significa derrubador, nós também fomos chamados a derrubar a razão humana, primeiro em nós mesmos e depois dizer a todos a nossa volta que Jesus é o único salvador, fazendo do nosso coração um altar de adoração ao Deus vivo.

Pelo fato de Gideão ter obedecido ao Senhor, o povo se irou contra ele, querendo matá-lo, o mundo é contra o projeto de Deus, e por isso chamaram Gideão de Jerubaal (traduzido é “Baal contenda contra ele”) e assim Gideão ficou conhecido, as pessoas estão tão presas a seus conceitos e idolatrias que não percebem que o mundo as domina, o povo já havia se acostumado com aquela situação de sujeição, o mundo hoje já se acostumou com o pecado e com um evangelho racional, mas o desejo do nosso Deus é libertar seus escolhidos revelando o projeto eterno de Salvação.

Tamanha foi a ira do povo que a palavra relata que os midianitas se ajuntaram no vale de Jezreel, que significa “plantado por Deus”, para pelejar contra os israelitas; mas o Senhor levou o povo a peleja e concedeu a vitória. Assim como os midianitas foram derrotados, o Senhor também nos dará a vitória e o mundo não levará o alimento que o Senhor nos tem dado, o mundo não destruirá o que o Senhor plantou em nossas vidas, como Gideão lutou para proteger o trigo e anos depois Nabote morreu por se recusar a entregar a sua vinha a Acabe, também em Jezreel, nós também lutamos pela obra que o Senhor realizou em nossas vidas; o mundo não tomará a semente que o Senhor plantou em nossos corações. Os midianitas levaram Israel ao empobrecimento, o mundo tem empobrecido ao homem; mas nós confiamos na promessa do nosso Deus:

“O meu Deus, segundo as suas muitas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus.”
Filipenses 4:19