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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Carnaval, a mais religiosa das festas profanas



"em nome de agradar às massas relativizamos valores cristãos e confundindo as coisas de Deus com os deleites pecaminosos da nossa existência miserável"





No ultimo sábado ouvi o programa “Vitória em Cristo” do pastor Silas Malafaia, na mensagem o pastor tratou da inversão de valores no meio cristão, a tese principal da mensagem foi, nas palavras dele: “invertemos valores por não conhecermos o que tem valor para o reino de Deus”. Me parece que o presente feriado é a época perfeita para essa reflexão.

Se nós voltarmos para a história da origem do carnaval veremos sua intima relação com a religião cristã. Mas antes devemos fazer dois reparos: primeiro que não se trata aqui de defender a festa, seja culturalmente, nem religiosamente; e segundo que sabemos a provável influência da cultura antiga sobre essa festa mas aqui nosso objetivo é apenas refletir sobre a postura do cristianismo em relação ao carnaval.

A festa tem origem na Europa, com autorização da Igreja romana como uma forma de permitir aos “fiéis” um período de “liberdade”, para extravasar e cometer pecados como gula e luxúria, vindo depois disso um rígido período de purificação, a quaresma – quarenta dias antes da páscoa marcado por jejum, oração e práticas penitenciais.

Essa permissão se deu mediante heranças antigas, de festas em que se invertiam papéis, escravos e senhores trocavam de lugar, reis eram humilhados pelos súditos, dentre outras inversões e exageros. Por muito tempo a Igreja condenou essas festas, contudo é sabido que tradições e costumes são difíceis de serem alterados, por isso com o passar do tempo os líderes religiosos criaram uma maneira de “legitimar” essa festa, dando a esse período de uma semana – na antiguidade era um período muito mais longo – o nome de “carnaval”, que em latim significa retirar a carne.

Nisso já vemos a contradição, ora se algo deve ser evitado não devemos nem por um minuto praticar aquilo, biblicamente falando as coisas que não agradam a Deus não devem ser feitas ou tocadas nem por um instante sequer, separar um período no qual é lícito transgredir a Lei divina já é por si só uma inversão de valores, sem dizer que claramente é uma subversão da lei de Deus.

Outro detalhe é que sob o argumento de que tendo esse período para extravasar e depois cumprir penitência estaria o homem sendo perdoado por Deus e ao mesmo tempo afastando-se do pecado no resto do ano é pura conversa fiada, mais um caso de “complexo de Judas”, valendo-se de um belo discurso para mascarar as más intenções do coração.

Mas meu caro amigo leitor, irmão em Cristo, não quero que pense que se trata de uma crítica apenas a Igreja romana, em absoluto não é isso. Trata-se de uma crítica a prática cristã descolada das escrituras, que vemos tanto no meio romano como no meio protestante, para ficar bem com o povo, chamado de “fiéis”, legitima-se condutas condenáveis expressamente ou por princípios das escrituras sagradas.

Hoje no meio evangélico vemos blocos carnavalescos, os chamados “blocos gospels”, com o pretexto de evangelizar, usando o argumento de que Deus opera de várias maneiras e isso também pode ser uma ação divina. Entenda caro leitor, não se trata de puritanismo ou hipocrisia, sinceramente acho que Deus pode falar sim por uma música composta em ritmo de samba ou qualquer outro, contudo o seu conteúdo deve ser bíblico, pois o que transforma, converte o homem é a Palavra de Deus, é o Espírito Santo que nos convence do pecado (João 16.8). Essa prática foi usada pelo próprio pastor citado no início desse texto. Como dizia Machado de Assis “é a eterna contradição humana”.


Outra coisa que foi feita há uns anos em Belo Horizonte foi um tal de “espirituval”. Olha que absurdo! Mais uma vez em nome de agradar às massas relativizamos valores cristãos e confundimos as coisas de Deus com os deleites pecaminosos da nossa existência miserável. Por isso o carnaval é a mais religiosa das profanações, não pela sua origem, mas por escancarar a nossa carência de Deus e o vazio que buscamos preencher desesperadamente, mas só Deus pode preencher (Salmo 24.1). Que Deus tenha misericórdia de nós e nos ensine a termos prazer Nele e não em nossos desejos e paixões (Salmo 1.1-2).




terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Filhos Mimados


“Deus não cria filhos mimados”



Há algum tempo tive contato com a obra de Theodore Dalrymple, pseudônimo do médico e psiquiatra britânico Anthony Daniels. Em seu livro Podres de Mimados, o autor faz uma análise de seus anos exercendo a psiquiatria na periferia de Londres, atendendo pessoas de baixa renda, com os mais diversos problemas. Contudo o que nos chama a atenção na obra é o diagnóstico do autor ao verificar que os referidos problemas são os mais triviais da vida, contudo as pessoas não sabiam lidar e transferiam a culpa de seus erros e fracassos para a família, companheiros(as) ou mesmo para o estado. Contudo jamais se viam como responsáveis pelos próprios erros. Aqui já fica nossa primeira lição: quem não se responsabiliza pelos próprios erros e fracassos jamais será capaz de protagonizar sucessos.

Recentemente reformulei e preguei na igreja uma mensagem que escrevi há algum tempo sobre o filho pródigo (Lucas 15.11-32), e esse fim de semana percebi que há uma relação imensa entre a história (parábola) que o Senhor Jesus contou e essa realidade que vivemos, diagnosticada brilhantemente pelo autor citado.

Antes, caro leitor, se faz necessário um alerta: caso você seja um desses mimados que entende que o erro é sempre do outro, cuidado, pois as considerações podem te deixar triste, então se prepare ou abandone a leitura enquanto é tempo. Não interprete mal esse alerta, vejo como necessário uma vez que essa mentalidade de mimados tem entrado muito no meio cristão, é cada vez maior o número de pessoas cristãs que não querem ouvir o que a Bíblia tem a nos dizer, sua verdade que nos confronta e diz que somos indignos, necessitados e que há um Deus santo, inalcançável e dependemos de sua misericórdia em vir até nós, sendo que em nós não há nenhum atrativo que justifique sua benevolência em se relacionar conosco. Isso é a graça! Ao contrário disso todos querem a pregação motivacional que diz que somos especiais, somos filhos e por isso somos pequenos deuses... Além de absurdo é de uma infantilidade impressionante.

Vejamos as lições da referida parábola: primeiramente é importante ressaltar que Cristo estava respondendo a religiosos, mimados que se viam como melhores que os outros e não admitiam que Jesus estivesse comendo com pessoas “indignas” (como se eles também não fossem), isso é típico de pessoas mimadas, se acham melhores, mais sofridas e dignas de atenção que outros e ainda dão por “mal empregado” os relacionamentos saudáveis e conquistas dos outros. São ressentidos.

A parábola começa falando “um certo homem tinha dois filhos”, caro leitor, a Bíblia não é sobre eu ou você. A Bíblia é sobre Deus, o Pai que criou filhos que o rejeitaram. Nos deu tudo, mas desde o Éden escolhemos nossa vaidade de achar que sabemos mais e traçarmos um plano para nós e quando dá errado colocamos a culpa na mulher que por sua vez coloca a culpa na serpente. Hoje é a mesma coisa a culpa é sempre do devorador, não fui que gastei mais do que ganhei, não foi eu que escolhi sair com a colega de trabalho e trair minha esposa, foi o adversário, sujo que me fez fazer isso. Somos uma geração mimada.

Os dois jovens receberam a herança, um foi pra longe, desperdiçou a herança, o outro ficou, mas ficou sem dar o menor valor a casa do pai. Aqueles jovens agiram como se o Pai estivesse morto uma vez que pediram a herança. O mais moço volta e pede para ser um jornaleiro (empregado), entenda que a benção de Deus é para os filhos, não adianta fazer campanha, pode até conseguir o que quer, mas para viver no céu tem que ter compromisso de filho e pra isso temos que nos submetermos a autoridade do Pai, deixar de sermos mimados e nos curvarmos a Ele.

Já o mais velho, com inveja do mais novo disse que estava sempre ali e o pai nunca deu um cabrito para se alegrar com seus amigos; assim é hoje, não estamos interessados em Jesus que é o cordeiro que tira o pecado, queremos o cabrito para nos alegrar com amigos. Mas a boa notícia é que Deus nos ama mesmo sendo mimados. Contudo, Deus não cria filho mimado, deixa de lado isso e se submeta ao amor incondicional de Deus.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Self cristã



“Conhece a ti mesmo e saiba que és pecador”


“Vivemos na era da self! Vivemos na era digital! Vivemos na era virtual!” Provavelmente o leitor já ouviu essas e outras expressões que marcam nossos dias, se não ouviu todas essas, ao menos uma já ouviu.

O termo “self” nos dias de hoje se tornou sinônimo de fotografia, um certo tipo de fotografia na verdade, contudo o termo em inglês indica reflexão, ou seja, é usado para indicar uma ação sobre si mesmo. Isso pode ter efeitos diversos dependendo de como lidamos com a autorreflexão.

Os gregos tinham uma máxima que historicamente atribuímos a Sócrates, contudo era uma inscrição na entrada do templo do deus Apolo em delfos, tal máxima era: “Conhece a ti mesmo e saiba que és mortal”. Embora a segunda parte da inscrição “saiba que és mortal” seja negligenciada nos nossos dias, arrisco dizer que ela é mais importante que a primeira.

Saber que somos mortais, conhecer nossas fraquezas e limitações talvez seja o único autoconhecimento que esteja verdadeiramente ao nosso alcance. Por isso eu corro de quem vive por ai cantando suas virtudes, nesse sentido o filósofo grego Aristóteles afirma que a virtude é silenciosa, sendo assim a verdadeira virtude é aquela que outras pessoas vêm em mim, jamais as que eu mesmo proclamo.

Essa consciência de que somos limitados, tão presente na idade média, se perdeu ao longo da modernidade, embora houvesse os jansenistas que pensavam essa limitação do ser humano e nossa condição de carentes, caídos e limitados pelo próprio pecado, dos quais um grande expoente foi filósofo Blaise Pascal, desde o século XVII, com a revolução científica e uma negação plena de Deus, nós estamos cada vez mais mergulhados em uma maneira humanista de pensar, em que o homem é autossuficiente e pode tudo, passando pelo super homem do Nietzsche, em que se acredita na capacidade do ser humano para criar seus próprios valores, abandonando a humildade de perceber que são os valores que nos possuem (Pondé), depois Freud, que acertadamente nos lembra que nossos desejos se impõem a nós, contudo o que ele chama de Mal Estar da Civilização, como sendo consequência do refrear desses desejos é na verdade o que manteve a sociedade minimamente ordenada e nos trouxe até aqui.

Em fim, poderia citar outros, mas encerro com Sartre que afirma que a existência precede a essência, nesse sentido o ser humano deve se construir como bem entender. E essa lógica tem vencido e nos tornado narcisistas, vivendo em função do “self”, voltados apenas para nós mesmos.

Entretanto um outro olhar, interessante sobre o “self” no campo religioso me foi colocado por Roger Scruton, em seu livro “A alma do mundo”, em que ele nos alerta que a “self” no cristianismo clássico foi a evolução das religiões, no sentido de que a tradição judaico cristã ensina o auto sacrifício diante de Deus; ao passo que as demais religiões antigas ensinava o sacrifício do outro para aplacar a ira das divindades ou para conseguir alguma dádiva. Importante lembrar que essa foi a grande batalha do povo hebreu no antigo testamento, sobretudo no período dos juízes.

Se há algo que pode ser chamado de progresso na história religiosa da humanidade, ele se dá na lenta preferência pelo self em detrimento do outro como a principal vítima sacrificial. É precisamente nisso que se apoia a exigência moral da religião cristã (Roger Scruton)

Infelizmente essa conquista que nos ajudou a sair da barbárie das religiões antigas vem se perdendo, com a mentalidade moderna surgem teologias motivacionais, teologias que possuem unicamente interesse em justificar ideologias políticas, ideologias essas que ignoram a limitação humana e acreditam na construção de um mundo perfeito, ou seja, rejeitam a promessa de redenção feita por Jesus e acreditam na redenção feita pela política.

Enfim, a era da “self” pode ser um avanço tecnológico e de fato é; contudo no campo da moral e da religião já foi uma evolução, hoje em dia, a medida que ignoramos que o pecado habita em nós, como nos lembra Paulo na carta aos Romanos 7.19, a “self” cristã narcisista é um grande retrocesso. Deveríamos parafrasear a máxima grega: “Conhece a ti mesmo e saiba que és pecador”.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Carregando a Cruz



“ninguém vai carregar a própria cruz sem negar o seu eu”

Já perdi a conta de quantas vezes ouvi pregadores dizendo que devemos carregar a nossa cruz, suportar as lutas e dificuldades, pois isso agrada a Deus. Durante muito tempo não questionei isso, afinal de contas Cristo sofreu muito para nos dar a Salvação, morreu em nosso lugar para que pudéssemos ter vida eterna.

Entretanto ao meditar na letra do louvor “Tome a Cruz”, composto pelo pastor Paulo Cézar, do grupo Logos, comecei a pensar melhor sobre essa questão; vejam o que diz um trecho desse louvor ou canção:

Tomar a cruz não é carregarUm peso, um fardo ou uma enfermidade que chegarMesmo que chegar
Tome e a cruz...Tomar a cruz é testemunhar,Mesmo que o mundo inteiroVenha contestar.Tome a cruz...

Na primeira estrofe destacada o pastor coloca por terra essa ideia de que tomar a cruz é sofrer com as dores e lutas do viver; na segunda estrofe destacada ele diz o que de fato é carregar a cruz, segundo a belíssima canção, carregar a cruz está atrelado ao testemunho, vejamos o sentido bíblico.

A passagem em que Jesus dá a ordem a seus discípulos para tomar a cruz está registrada nos três primeiros evangelhos: Mateus 16.24, Marcos 8.34 e Lucas 9.23; mas o que me chama a atenção é que em Marcos e Lucas está registrado que Jesus disse isso a multidão ou a todos, ou seja, tal ordem é dada a qualquer um que queira seguir a Cristo.

A expressão comum em todos os três evangelhos é: “se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. Caros leitores, se tem algo negligenciado pelo cristianismo hoje é o seguir a Cristo, o compromisso que Deus exige daqueles que dizem segui-lo.

Vamos primeiro explicar o que Cristo estava dizendo com a expressão “tome a sua cruz”. Todos sabemos que a morte por crucificação ou crucifixão, era uma prática comum no na antiguidade e ainda mais no império romano[1], sabemos também que havia um acordo entre os romanos e os judeus de proibição da prática da crucifixão dentro da cidade de Jerusalém, isso devido a lei judaica de contaminação pelos mortos[2]; devido a isso era necessário cumprir a sentença de morte fora dos muros da cidade.

Contudo Roma era o povo dominador e não perderia a oportunidade de mostrar seu poderio, por isso as autoridades, se valendo dos soldados, obrigavam os condenados a carregar a ‘própria cruz’ até o local da crucifixão, ou seja, o sentenciado a morte “desfilava” pela cidade e todos viam que aquele não voltaria vivo.

Tomar a cruz para o judeu tinha essa conotação: “não voltarei”. Entretanto perceba que Cristo diz antes: “negue a si mesmo..”, no contexto que Jesus está dizendo, contexto esse muito bem apreendido e expressado de maneira poética e tão bela pelo pasto Paulo Cézar no louvor citado, não se trata de uma morte física, mas de um testemunho publico de que a partir daquele momento pertencemos a Cristo e nosso compromisso é apenas com Ele; mas nenhum ser humano terá esse compromisso com Deus sem negar a si mesmo, ninguém vai carregar a própria cruz sem negar o seu eu.

Acredito, caro leitor, que negar a nossa vontade, nossa vaidade, seja a tarefa mais difícil que Cristo nos impõe, especialmente para nossos dias; em uma época de narcisismo exagerado, em que tudo e todos nos diz para olharmos para nosso umbigo, os vícios se tornaram virtudes, bem disse o profeta Isaías: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal...”[3]; a inversão de valores é ululante, bem como a falta de compromisso, e é exatamente de compromisso que a passagem nos fala.

A nossa cultura não está disposta a ter compromisso, a negar os próprios desejos e interesses. Não se pode servir a dois senhores, ou obedecemos a Jesus e negamos a nós mesmos e carregamos a nossa cruz ou não pertencemos a Ele, ou aceitamos a sua palavra total e literalmente ou somos cristãos.





[1] Muitos atrelam a prática da crucifixão apenas ao império romano, isso não é verdade, há registros anteriores de tal pratica, contudo é verdade que o império romano teve a crucifixão como principal pena de morte.
[2] Hoje sabemos que Deus em sua infinita sabedoria não impôs essa lei apenas por uma questão ritualística mas acima de tudo por uma questão de higiene, basta observar quantos povos foram dizimados por doenças, a Europa mediava sofreu muito por doenças causadas por falta de saneamento, higiene; contudo nunca houve esse problema em Israel.
[3] Isaías 5.20