Por que o preconceito contra os negros merece mais atenção que o preconceito contra os latinos e asiáticos? [...] Por que a imprensa brasileira divulga e promove a comoção nacional pela morte da vereadora Marielle Franco e ignora o assassinato da policial branca mãe de família lá no Rio Grande do Sul?
No dia 29 de maio deste
ano aconteceu a morte de George Floyd nos EUA, fato que desencadeou uma série
protestos por todo o país, alguns com violência e depredação de patrimônio
público e privado. Chegando ao extremo de incendiarem igrejas.
Que o racismo é desumano não temos a menor dúvida, o espantoso é o processo de desumanização, em parte sutil, mas presente em toda a história humana. Desde a antiguidade povos foram dizimados simplesmente por serem considerados inferiores.
Luiz Felipe Pondé (2019,p.89) ao refletir sobre essa massificação aplica essa ideia do discurso desumanizados a questão do aborto, mostrando como se trata da desumanização do feto:
Chama-me atenção a fúria como as campanhas pró-aborto repetem o movimento de desumanização, agora do feto: “Feto não é gente, pode jogá-lo fora”. Campanhas assim (de definição do “humano”) já foram realizadas em outros momentos da história e aplicadas com sucesso a outras vítimas[1].
Basta lembrarmos que a escravidão africana se deu exatamente pelo discurso de que o negro não era um ser humano completo pois não tinha alma, ou ao menos não seriam dignos de ser considerados humanos até que se convertessem ao cristianismo. Além disso temos o holocausto nazista que é o mais claro e recente exemplo do que estamos tratando aqui, um discurso propagado dizendo que os judeus não eram dignos de ser considerados humanos ou iguais.
Talvez o caro leitor esteja vibrando, dizendo: é isso mesmo, ao longo da história os negros foram considerados inferiores e agora é hora de cobrarmos essa dívida histórica e nos impor sobre os brancos que foram e são os opressores.
O problema é que esse discurso é tão desumanizador quanto o primeiro. Por que o preconceito contra os negros merece mais atenção que o preconceito contra os latinos e asiáticos? Esses últimos são tão graves e comuns nos EUA quanto o primeiro. Por que a imprensa brasileira divulga e promove a comoção nacional pela morte da vereadora Marielle Franco e ignora o assassinato da policial branca mãe de família lá no Rio Grande do Sul?
A resposta é relativamente simples. A importância não está na vida humana, como se diz, a relevância da vida dessas pessoas é medida pelo ganho que terei no fortalecimento do meu discurso, pois o que me interessa não é a indignação contra o policial cruel que ajoelhou sobre o pescoço de um homem, que por sua vez não esboçou nenhuma reação após a abordagem dos policiais, perceba que aqui uso a expressão “um homem”; o ativista usaria “um homem negro”; pois para o ativista (que nem sempre pertence àquela etnia) o negro vale mais, não por amor ao seu povo, mas por amor a sua causa política.
É lamentável, mas o
racismo não vai acabar tão cedo! Infelizmente somos racistas devido a nossa
condição de caídos, pecadores, isso faz que eu me sinta superior a meu
semelhante. Basta você pensar em alguém que você desaprove e pensar se não tem
ao menos uma ponta de sentimento de superioridade, esse sentimento é o começo
do racismo, em essência não é diferente, o que muda é o grau, o sentimento de
superioridade que temos em relação a alguém pode se tornar racismo, bastando
que tenhamos esse sentimento de superioridade a todos, que pensem como ele; adorem
a mesma divindade ou tenham votado no mesmo candidato. Claro que também pode
ser um sentimento de superioridade a todos de uma etnia ou nacionalidade, no
fundo é a mesma coisa e tem a mesma origem em nossa condição, só imaturos e
mentirosos não percebem isso.
Talvez o caro leitor esteja se perguntando se sou racista. Posso te afirmar que não sou racista, vejo todos os seres humanos como meus iguais, mas não posso dizer que estou livre desse sentimento de superioridade. Como disse Paulo: “o pecado habita em mim” (Romanos 7.19-20), por isso preciso me policiar para não me tornar um racista seja contra a etnia, religião ou pensamento que for.