Sinceramente esse “deus” anunciado por esse rapaz não é digno de respeito, consideração, admiração, muito menos adoração. O personagem que ele anuncia não é o Deus de Israel, é apenas um amigo imaginário que massageia o ego dele.
É bem verdade que as heresias sempre existiram e não devemos nos assustar ou nutrir grandes preocupações, tampouco empreender campanhas, guerras “santas” ou cruzadas contra os hereges. Não vale a pena! Aliás quem devota a vida a ficar se digladiando nas redes sociais em “defesa da fé” está com a “vida ganha”, não tem boletos pra pagar; nem uma vida devocional com Deus para se preocupar.
Contudo, não quero com isso dizer que não devemos responder às heresias, apenas não devemos perder tempo com elas, na verdade a resposta é necessária até para nós mesmos, pois a nossa fé precisa estar fortalecida e firmada em Deus através das escrituras.
Essa semana recebi um link de mais uma pérola de um jovem palestrante (não dá pra chama-lo de pregador, muito menos de pastor, ou qualquer outro termo que designe ministério), em um vídeo, ele afirma que se Deus estivesse no controle de tudo não existiria coronavírus[1].
Tenho certa compaixão dessas pessoas, pois é uma fala tão ingênua, que não sei como ele consegue se levar a sério dizendo isso. Sempre lembro de uma reflexão do Luiz Felipe Pondé (volto a citar um ateu, pois ao contrário do palestrante gospel, ele pensa para falar) em que ele diz que se tornou ateu quando criança e que é muito fácil ser ateu exatamente pelo fato do mundo não fazer sentido e existir muita maldade, nesse contexto é inconcebível um Deus todo poderoso e bom. Contudo o mesmo filósofo admite que o Deus judaico-cristão é uma possibilidade inteligente e que demanda muita sofisticação para lidar, pois é um ser que é em si mesmo, ou seja, Ele é causa de si mesmo, fora do tempo e da linguagem, em outras palavras, eterno e não pode ser entendido plenamente pela mente humana, consequentemente não é totalmente explicável.
Mas voltemos a nosso palestrante, veja se não devemos ter compaixão dele: como é triste acreditar em um “deus” fraco, que é surpreendido por um vírus, incapaz de impedir a existência de um vírus; pior, cria-se esse demiurgo [termo que designa um ‘deus’ menor, de segunda classe na mitologia grega] apenas pela covardia de se admitir e se submeter a um Deus onipotente que não fica o tempo todo dizendo o quanto nos ama, pois ao contrário de suas palestras onde o “deus” que ele prega vê um valor infinito na humanidade, a bíblia nos confronta profundamente, mostrando o quanto somos frágeis, insuficientes e carentes do Deus todo poderoso.
Sinceramente esse “deus” anunciado por esse rapaz não é digno de respeito, consideração, admiração, muito menos adoração. O personagem que ele anuncia não é o Deus de Israel, é apenas um amigo imaginário que massageia o ego dele.
Contudo caro leitor, esse pensamento não é recente, desde o início da era Cristã isso é discutido, no século XVIII, o filósofo David Hume formulou o problema da incompatibilidade entre Deus e o mal da seguinte maneira:
Se ele quer evitar o mal, mas não é capaz de fazê-lo, então ele é impotente. Se ele é capaz, mas não quer evitá-lo, então ele é malévolo. Ora, se ele quer evitar o mal e é capaz de evitá-lo, então como se explica o mal?[2]
Claro que cremos pela bíblia que Deus é completamente bom e todo poderoso (onipotente), então como responder a pergunta do filósofo? Ora, essa resposta é bem simples mas inaceitável para quem segue essa filosofia humanista que retirou Deus do centro e pôs o homem.
Após pecar no Édem Adão legou toda a humanidade ao pecado e com isso ao sofrimento, o mal é consequência disso, não faria sentido pessoas más, desobedientes, incapazes de honrar ao seu Criado, viverem em um mundo perfeito. Ou seja, o mal existe porque nós existimos, para retirar o mal do mundo Deus teria que nos retirar do mundo, como quase fez na época de Noé.
Paulo muito tempo depois de convertido afirma que o mal habita nele (Romanos 7.19-20), portanto o mal (doenças, calamidades, violência, etc.) existirá no mundo até que Jesus volte e transforme aqueles que creem Nele e condene os que o rejeitaram. Lembre não é nosso pecado que nos condena, mas a rejeição ao perdão oferecido por Cristo na cruz.
Não se engane meu caro amigo e irmão em Cristo, essas bobagens, que são conceitualmente heresias pois afetam a compreensão da obra redentora de Deus, são apenas fruto da vaidade de pessoas que não se curvaram ao Senhor Jesus, ao Deus soberano e pensam que podem dizer quem é Deus. Eles deviam ler mais o livro de Jó.
ASSISTA TAMBÉM: O verbo se fez carne
[1] https://pleno.news/fe/victor-azevedo-e-criticado-por-duvidar-da-soberania-de-deus.html
[2] David Hume. Dialogues ConcemingNaturalReligion. Indianapolis, Bobbs-Mcmll, 1980, parte 10, p. 198 apud CRAIG, William Lane. Apologética para questões difíceis da vida. São Paulo: Vida Nova, 2010. Tradução de: Heber Carlos de Campos.