"a oração é um exercício de humildade, de reconhecimento da nossa condição perante Deus, isso foi há muito esquecido pelas ultimas gerações"
Há umas semanas, em uma reunião com
jovens por vídeo conferência, foi feita uma pergunta; se existe uma forma
correta de orar. As respostas giraram em torno da sinceridade e de a quem a
oração deve ser direcionada, se é certo orar ao Filho ou ao Espírito Santo.
Lá pelas tantas fiz uma intervenção
lembrando que devemos sim seguir o ensino de Cristo na oração do Pai Nosso, ou
seja, a nossa oração deve sim ser direcionada ao Pai, composta de glorificação
a Deus (santificado seja o teu nome); pedindo pelas coisas celestiais, salvação,
vida eterna (venha a nós o teu Reino); uma confissão sincera de submissão a Deus
(seja feita a tua vontade); pedir pelas nossas necessidades (o pão nosso de
cada dia nos dai hoje), sabendo que Cristo não morreu para nos dar coisas
materiais; suplicando perdão conscientemente (perdoai nossas ofensas), não
adianta pedir perdão sem arrependimento ou de falhas que não sabemos que
cometemos; por fim pedir que para não cedermos a tentações e sermos livrados do
mal, do pecado e da morte que o pecado impõe.
Além disso, lembrei que não basta a
sinceridade mas a consciência de que Deus só nos atende através de Jesus, Ele é
nosso intercessor, nosso advogado (I João 2.1). Jesus mesmo disse que se
pedirmos em nome Dele o pai nos concederá (João 1.13).
Mas principalmente coloquei para
aqueles jovens que não sabemos como orar (Romanos 8.26), não sabemos o que
pedir, nem como pedir, em outras palavras, só Deus sabe o que é melhor para nós,
portanto não adianta ficarmos nos apegando a divagações teológicas nem a
sentimentalismos, precisamos conscientemente entender nossa condição tão
pequena diante de Deus.
Hoje, em um sábado, ouvindo o louvor “A Calma[1]”, composto
pelo irmão Diego Albuquerque[2],
vi a síntese de tudo que falei acima, veja a primeira estrofe:
É na oração
Que fiz de coração
Que encontrei a calma
Que acalenta a alma
Onde o meu eu
Se submete a Deus
A paz que me invade
E traz a liberdade pra viver
Nessa letra o irmão em Cristo expressa
exatamente, com a beleza que apenas um artista e poeta consegue, aquilo que
jamais um teólogo ou simples professor como eu conseguiria ensinar pela rigidez
da exegética: 1º) Sim a oração deve ser sincera, afinal de contas Deus sabe de
tudo, não há a menor possibilidade de enganá-lo; 2º) A oração sincera é aquela
em que nos submetemos a Deus, reconhecemos que Ele é Senhor e nós devemos
aceitar a sua soberana vontade; 3º) Apenas a oração sincera, um exercício de
submissão a Deus nos dá liberdade para viver[3]; a
submissão a Deus nos faz entender a nossa condição, nos libertando da ilusão do
nosso eu, de que temos algum valor em nós mesmos que atraia Deus, tudo que Deus
dá é ato de amor e misericórdia.
Isso me lembra o livro do filósofo e pastor
batista Jonas Madureira: “Inteligência Humilhada[4]”,
nessa majestosa obra teológica o pastor defende que não nos humilhamos diante
de Deus, pois já somos humilhados, é uma condição humana estar humilhado diante
de Deus. Enfim, a oração é um exercício de humildade, de reconhecimento da
nossa condição perante Deus, isso foi há muito esquecido pelas ultimas gerações,
passamos a determinar, não mais pedir a Deus, a fé passou a ser sinônimo de
grandeza, quando deveria ser reconhecimento de pecado e carência de Deus. O
amor de Deus deve nos constranger não nos envaidecer. Que Deus tenha misericórdia
de nós.
Por fim, apenas uma breve observação:
não quero enaltecer a arte e a música em detrimento do ensino, tampouco
pretendo o inverso; apenas quero deixar claro que o ensino e a arte devem andar
juntos. Não precisamos que a arte seja exegética, é necessário deixar a emoção
falar; basta que cada um cumpra o seu papel, a quem cabe ensinar que ensine com
esmero (Romanos 12.7), e o músico que expressar através da arte e talento que
Deus lhe deu as suas experiências com Ele. Dessa forma a igreja de Cristo irá
anunciar a todos a salvação em Jesus.