“o inferno é [sempre] o outro”. [...] “se
o outro é o inferno, em algum momento eu sou o inferno do outro”. Essa é minha
grande confissão!
Sei que é estranho falar de pecado,
ainda mais em nossa época. Não entenda, caro leitor, esse texto como um
julgamento ou acusação seja a quem for; trata-se na verdade de uma sincera
confissão. Confissão de alguém que não entende como pessoas se dizem tão
certinhas e ao mesmo tempo se dizem vítimas dos mais variados vícios alheios. A
conta não fecha.
Ora, se todos são vítimas de vícios alheios,
mas ninguém admite possuir tais vícios tem alguma coisa errada. Talvez você
nunca tenha se perguntado isso pois pertence a esse grande coro de vitimados
que possuem uma convicção inabalável em uma ideia do filósofo Jean-Paul Sartre: “o
inferno é o outro”. Entretanto não percebem uma coisa óbvia que
aparentemente nem o referido filósofo percebia: “se o outro é o inferno, em
algum momento eu sou o inferno do outro”. Esta é minha grande confissão!
Tenho certeza de que em vários
momentos minha falta de controle sobre meu humor feriu minha mãe, meus amigos e
familiares. Minha certeza sobre questões religiosas magoaram familiares tão
queridos. Meus desejos egoístas feriram pessoas que confiavam em mim ou deixei
de ajudar pessoas a minha volta simplesmente por me importar mais comigo. Tudo
isso fruto de uma natureza pecaminosa e da minha incapacidade de lidar com ela.
Por isso corro daqueles religiosos que
cantam a própria santidade a plenos pulmões como se tivessem todo o controle
sobre suas ações. Não temos! Muitas vezes nos vemos dominados pelo nosso
pecado, o pecado que nos constitui. Quantas vezes percebi em mim
a fala do apóstolo Paulo incapaz de fazer o bem que queria mas entregue a
desejo perverso que me constitui (Rm 7.19-20).
Claro que devemos pregar e ensinar o que a
Palavra de Deus diz ser pecaminoso: “E a meu povo ensinarão a distinguir entre
o santo e o profano e o farão discernir entre o impuro e o puro.” (Ez 44.23)
Contudo, sabendo da nossa fraqueza e
incapacidade plena de nos dominar, devemos sempre nos lembrar que nossa comunhão
com Deus é dada pela misericórdia Dele e pela ação do Espírito Santo que
mediante o sacrifício de Cristo nos leva para perto de Deus.
Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. (I João 2.1)
Quando falo ou penso sobre esse tema
sempre me lembro de como Deus repreendeu a Caim enquanto desejava matar seu irmão:
Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás. (Gn 4.7)
O problema é que pensamos ser fácil
dominar o desejo, pensamos que isso pode ser feito sem a ação de Deus e assim
aqueles que por vários fatores conseguem se conter se sentem no direito de
humilhar e desprezar aqueles que possuem dificuldades em conter a si mesmos, se
esquecem que estamos todos na mesma condição.
Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. (Rm 3.23-26)
Devemos nos lembrar da parábola que
Jesus propôs, registrada no evangelho de Lucas, capítulo 18, versículos 9 a 14,
que se inicia exatamente falando daqueles que se achavam justos por confiarem
em si mesmos, no próprio caráter e bondade; nessa parábola Cristo diz que
entraram no templo um fariseu (religioso) e um publicano (mal visto pela
sociedade por sua proximidade com os romanos e atividades financeiras, que
subjugava o povo), o fariseu se vangloriava de suas atividades religiosas que o
tornavam bondoso (ao menos ele achava que tornavam); já o publicano se humilhava dizendo, sem levantar os olhos
por não se achar digno: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”; Cristo afirma
que esse último desceu justificado.
Não somos justos ou bons; Cristo é justo e
nos justifica pela sua graça e misericórdia, como diz Luiz Felipe Pondé: “apenas a consciência das sombras pode garantir
alguma luz”. Que Deus tenha misericórdia de mim que sou pecador.
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